Mostrar 116 resultados

Descrição arquivística
Com objeto digital
Previsualizar a impressão Ver:

Alvará régio de D. Manuel I a ordenar a união do hospital e gafaria à Santa Casa da Misericórdia de Barcelos

Alvará régio de D. Manuel I a ordenar, aos juízes, vereadores, procurador e homens bons de Barcelos, a união do hospital e gafaria à Santa Casa da Misericórdia de Barcelos, cuja administração passaria a estar sob jurisdição dos oficiais da Misericórdia.

[Antónia Teresa da Cunha Vilas Boas]

Senhora Dona, viúva de Constantino da Cunha Velho, o seu retrato a óleo apresenta-nos a benfeitora Antónia Teresa da Cunha Vilas Boas da seguinte forma:

Uma senhora de meia idade, sobre um fundo negro, sentada em posição frontal, de olhar dirigido e expressão serena. Tem o cabelo preso à altura da nuca por uma fita laçada, usa vestido negro, coberto por uma capa e um lenço a envolver a gola. Com a mão direita segura um leque. Notoriamente a imagem, diríamos, aristocrática de alguém com certa posição social, residente na então vila de Barcelos. Não sabemos a data do seu nascimento, mas sim da sua morte, 6 de abril de 1788.
Se as mulheres não tivessem, como tinham, atributos de proprietárias e de testadoras iguais aos dos homens, como seria garantido o financiamento regular das Misericórdias sem as rendas das terras, fruto do trabalho conjunto de homens e mulheres? Elas tornaram-se personagens principais destas instituições caritativas, vistas por alguns historiadores como “palco onde se desenrola uma representação social ritualizada, envolvendo as classes sociais locais”.
Mas qual foi o papel de Antónia Teresa? Foi o legado que deixou em testamento à Santa Casa da Misericórdia de Barcelos e cuja certidão se encontra no Livro I das doações, testamentos e legados da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos, que passamos a transcrever e que pode ser consultado no Arquivo Leonor.
Deixa em testamento nada mais nada menos que cento e trinta mil réis! Uma fortuna para a época e, expressamente, para curativo de pobres que acorriam ao Hospital da Misericórdia, porquê? Em tempos em que a proteção social era praticamente inexistente a nível de governo central, a clientela hospitalar era na sua quase totalidade constituída por pobres ou pauperizáveis, o mesmo sucedendo no espaço europeu, como afirma Maria Antónia Lopes.

Tais conjunturas adversas eram frequentes e a miséria e o desamparo eram o destino de tantos populares na velhice, o que não quer dizer que, esporadicamente, não entrassem nos hospitais doentes a quem se reconhecia capacidade para pagar as suas despesas, em geral pessoas em jornada. No entanto, os custos eram elevados e cabia à gestão de cada Misericórdia zelar para que nada faltasse a todas as almas que, por um pouco de pão e agasalho ou por qualquer tipo de ferimento, batiam às portas dos hospitais.

Em muitos casos, tal como o que vos apresentamos, foram mulheres, ainda em plena vida ou no desvanecer dela, que contribuíram para que a caridade prevalecesse pelo tempo, especialmente depois das suas mortes.

[Armando Pereira do Vale Miranda]

Armando Pereira do Vale Miranda nasceu, a 12 de julho de 1929, na freguesia de Midões, na pitoresca quinta de Chapre, onde também vivera o seu tio-avô, o reconhecido etnógrafo António Gomes Pereira. Aqui passou a sua infância e juventude até partir para a movimentada cidade de Coimbra, onde veio a licenciar-se em Direito, tornando-se também orfeonista, convivendo com ilustres vozes do Fado de Coimbra como: Luís Góis, António Toscano, Fernando Machado Soares, Garção Soares, Fernando Rolim e tantos outros…

De regresso a Barcelos, inicia a carreira de advogado em 1957, no entanto, a par desta função uma outra se seguiria, que marcaria para sempre a sua vida: ser provedor da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos. Exerceu as funções de provedor entre 4 de janeiro de 1960 e 2 de agosto de 1969, praticamente uma década!

Durante todo o período em que esteve neste cargo, o então chamado Asilo de Inválidos (hoje, Lar da Misericórdia) e o Hospital ainda se situavam nas instalações antigas. Foi neste mesmo período que a ideia de um novo hospital se viria a concretizar, tornando-se no seu maior desafio como provedor e, igualmente, como ser humano, como o próprio afirmou nos seus escritos, onde registava os momentos marcantes da sua carreira e da sua vida e que, carinhosamente, distribuía por familiares e amigos.
Num dos muitos episódios que recordou com carinho, teve uma visita surpresa do então ministro da saúde, Dr. Henrique Martins de Carvalho, que, ficando agradado com as condições hospitalares, prontamente se dispôs a perguntar o que era necessário em termos de equipamento. A este repto, Armando Vale Miranda não hesitou em pedir uma incubadora e, nesse mesmo dia, foi despachada a sua aquisição.

Finda a década de 60 do século XX, decide pôr termo ao seu mandato como provedor, pois a sua filha mais nova estava a caminho e, já com três filhos, seria momento de dedicar mais horas à família. Mesmo assim, foi Presidente da Assembleia-Geral (1979-1981) e Membro do Definitório (1982-1987), marcando ainda a cidade de Barcelos como vereador da Câmara Municipal de Barcelos, entre 1960 e 1963, Presidente do Lions Clube de Barcelos (1982/1983), pertenceu também à direção da Casa do Menino de Deus, entre 1991 e 2012, instituição que também ampara e protege crianças e jovens, em situação de vulnerabilidade.

Longos e prolíficos estes dez anos que marcaram a sua vida e a de tantos quantos conviveram com ele, deixando uma marca pessoal de afetuosidade, dedicação e empenho, mas também institucional, pela forma como liderou a construção do novo hospital, proporcionando uma melhoria nos cuidados de saúde dos habitantes da cidade de Barcelos.

Homem de afetos e amizades sólidas, todos os anos passava o dia 23 de dezembro no hospital, onde era importante ter contacto com o próximo, não como provedor, mas como ser humano que era e que se importava com o bem-estar do outro.

O seu retrato, em óleo sobre tela, encontra-se hoje na Sala da Mesa do Núcleo Museológico da SCMB, com um sorriso tímido, mas sincero, de quem marcou para sempre esta Casa, num período decisivo, com um olhar sereno como quem diz que se preocupa e que a sua ausência física será apenas um breve pormenor, como quando nos despedimos de alguém com um “até breve”.

[As Benfeitoras]

Nas últimas décadas, a historiografia das Mulheres tem emergido das profundezas da História. Podemos pensar que apenas desde o século XIX, com a Revolução Industrial, os ideais liberais e tantos outros movimentos, é que elas passaram a ter um lugar mais destacado. Nada mais erróneo!

As mulheres sempre estiveram presentes, no Antigo Egito, nas primeiras civilizações do Crescente Fértil, na época grega e romana. Tudo depende de como a História foi contada e, quase sempre, foi contada por vozes masculinas, fazendo com que o seu papel se diluísse.

Na História das Misericórdias, é sabido que o acesso aos cargos de direção era exclusivamente masculino, no entanto, através dos nossos estudos arquivísticos mais recentes, contatamos que, à semelhança das outras Misericórdias, a Santa Casa de Barcelos contou sempre com o apoio de mulheres que doavam e legavam os seus bens ou parte deles a esta instituição. Tal ação foi fulcral para a manutenção das diversas valências de apoio social e espiritual ao longo de séculos.

A título de exemplo, em Lisboa em 1797, por falta de irmãos que cumprissem as obrigações do compromisso, a Mesa da Misericórdia de Lisboa obteve autorização para que o governo do Recolhimento das Órfãs, do Hospício do Amparo e do Hospital dos Expostos fosse assumido por senhoras nobres. Pela primeira vez, as mulheres dirigiam importantes estabelecimentos da Santa Casa.

Em Portugal, deve-se ao primeiro governo de Fontes Pereira de Melo – por portaria de 6 de dezembro de 1872, de António Rodrigues Sampaio, ministro do Reino –, a obrigação de admitir como “irmãos os indivíduos de ambos os sexos”, cláusula a inscrever nos futuros compromissos das Misericórdias, vedando, contudo, às mulheres capacidades eleitorais e – cumprindo-se o enquadramento legal da época – exigindo às casadas a autorização dos maridos.

No século XIX, as mulheres das elites iniciavam-se na direção de atividades benemerentes, consideradas aptas para um sexo que era agora idealizado como meigo e cuidador. A maioria dos estabelecimentos de assistência não funcionava sem o trabalho feminino e, por isso, desde a sua origem, a ação das Misericórdias não teria sido possível sem as mulheres. De facto, como conseguiriam essas instituições manter hospitais sem enfermeiras, cristaleiras, cozinheiras, padeiras, roupeiras, lavadeiras, serventes, amas de expostos?

Este mês, destacamos não uma, mas três benfeitoras: D. Antónia Teresa da Cunha Vilas Boas, Joana Jacinta Guadalberta e D. Umbelina Matilde de Magalhães e Menezes. De todas, apenas sabemos que D. Antónia deixou, por volta do ano de 1760, um generoso legado – no valor de cento e trinta mil réis – ao Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos, pois consta no Arquivo Leonor uma certidão a ele referente.

Elementos biográficos são praticamente inexistentes nestes casos, mas ficou-nos o testemunho da sua ação, da sua intervenção na sociedade e na vida de uma Casa que sempre apelou à caridade.

Resultados 1 a 10 de 116